domingo, 5 de setembro de 2010

O que fica


Hoje andando no calçadão de Ipanema, sentindo a brisa e o barulhinho bom de mar, percebendo a calmaria misturada em sincronia com os passos de todos os ritmos, respirações ofegantes, papos cantantes e olhares distantes, observei uma cena deveras interessante.
Do lado oposto da rua vi um garoto, no máximo uns 6 anos, talvez menos... estava sendo 'escoltado' por pai, mãe e babá, em um momente de alegria contagiante. O menino se encontrava em cima do skate, mas quem o levava era seu filhote de pit bull, amarrado na coleira e correndo o máximo que podia. Quando um sorriso começava a brotar no meu rosto com a cena, percebi na fração de segundos o desastre... o cachorro continuou correndo, e o rapazinho segurando, porém o skate resolveu parar. Resultado, o pobre foi beijar o chão, estatelando-se. Por sorte a queda foi pequena em função de sua estatura, mas ainda assim não é agradável pra ninguém rolar em um chão de concreto em alta velocidade.
Bom, resumo da ópera, o protagonista da história abriu o maior berreiro, que deu pra se ouvir até em Copacabana. Ele ganhou uns bons ralados, mas eu, mera espectadora, ganhei uma reflexão com a cena toda. Na verdade relacionei-a com algo similar que aconteceu com meu priminho de 3 anos... fomos ao sítio e ele adorou brincar de escorregar o morro em um pedaço de papelão. Passou a tarde entretido com a brincadeira, até que, fatalmente, levou um rola. E chorou, chorou, chorou. Poxa, pensei nas duas situaçãoes... você se divertiu tanto em uma nova experiência, foi ao auge da alegria com a conquista, mas no fim quando algo deu errado ficou tão triste? Será que o que você recebeu de positivo com isso não é maior que a dor?
Porque no fim das contas o que fica marcado é o negativo? Passamos a vida semeando relações, nos esforçando, abrindo mão de muitas coisas e passando por cima de algumas coisas para achar um meio termo, mas se algo que fazemos desagrada a pessoa, a mágoa fica, gritando bem mais forte que a gratidão por as outras mil coisas antes feitas...
Será que existe algum jeito de tornar as lembranças e sensações positivas mais presentes em nós do que as negativas? Será que esse tipo de reação às situações negativas é instintiva ou criamos essa mania ao longo do tempo?
Que seja eterno enquanto dure, e que quando acabar que a memória eterna seja a agradável, não a dolorosa.

[Por July Tilie]

2 comentários:

Layla disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Layla disse...

O texto leva a um encaminhamento inesperado e gostoso de ler!
=)